Como assim RPG é um jogo? Porque?

Meus amigos e amigas, já se perguntaram o que é jogo? Porque o RPG se encaixa nesse conceito? Instigado por um velho amigo que afirmou que Role Playing Game não é um jogo, mas sim algo denominado “interpretação de personagem”, unindo com meus poucos conhecimentos em teoria do jogo adquiridos na academia moderna, retornados agora com algumas leituras que vem sendo realizadas para fins RPGisticos, rapidamente exponho a relação desse conceito com o RPG.


Conceito

Ressalto que entre os teóricos há elementos diferenciados para definir o que é jogo, não como divergências em sua grande maioria, mas alguns utilizam mais características que outros; também há certa dificuldade em definir em poucas palavras, alguns autores tentam, mas prefiro ficar com a definição que podemos dizer ser a base para a compreensão do tema.

Johan, um cara que nos entenderia
Em 1938, o filosofo alemão Johan Huizinga (pronuncia-se Ioran Rotzenrá) escreveu o fantástico livro “Homo Ludens”, no qual trazia uma intrigante teoria: a civilização se desenvolveu, antes de tudo, através do jogo; seja para os rituais religiosos, seja para falar ou guerrear, antes de tudo foi preciso vivenciar essas coisas no jogo.
Ele foi então para a definição, e de posse das teorias já publicadas, observou que todas se uniam em uma coisa única, e preferiu definir o jogo a partir de suas características, que assim elaborou:




“o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da "vida quotidiana".

Agora faço uma pequena adaptação, para vermos como é claro nosso hobby favorito dentro dessa concepção:

  1. RPG é uma atividade ou ocupação voluntária, se o faz por uma imposição, deixa de ser um jogo.
  2. Ele é exercido dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço: começa uma determinada hora, termina quando os jogadores quiserem ou precisem fazê-lo, e ocupam um local como uma mesa ou uma parte de chão.
  3.  regras livremente consentidas, ou seja, foram acordadas entre todos, seja pela leitura de um manual ou criação coletiva, e são absolutamente obrigatórias, todos seguem as mesmas a partir da organização do mestre, e quem as quebra fica de fora da mesa ou não volta na próxima.
  4. Dotado de um fim em si mesmo, pois aquele momento do jogo é consumido enquanto se joga, e ao se encerrar, não existe mais, a próxima mesa será outro jogo, mesmo que tenha os mesmos personagens.
  5. Acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria, pois vivemos tramas e aventuras com cada personagem e desafios maiores e melhores que outros.
  6. Gera uma consciência de ser diferente da "vida quotidiana", obviamente, queremos viver algo mais que o dia nosso de cada dia, em mundos fantásticos ou sombrios, com terrores e poderes além de nosso alcance.

Bem claro certo? Todos os elementos que utilizamos no desenvolvimento de uma mesa, estão incorporados a essas características; a interpretação, a rolagem de dados, a narrativa, as fichas, os cenários, etc.

Conclusão

Podemos nos perguntar por que filosofar sobre tal coisa. Pois bem, entender o que fazemos e o porque foi o que originou a filosofia; entender por que jogamos foi o que instigou Huizinga e seguiu instigando os interessados no tema depois dele. Dizer que jogamos RPG apenas por diversão é simplista demais, não cabe nas buscas que cada um faz em sua própria vida. Pense sobre isso.