Crônica de Santa Helena: personagem Y. Van Broken


Passado! O próprio nome já diz, passou! Quem se importa com o passado quando se tem o presente. Este é uma dádiva concedida. E o futuro então? Ainda mais promissor, você pode negociar e construí-lo como bem entender.
Meu nome? Você precisa de um nome? Vou-lhe dar um: Van Broken. Você pode precisar dele, ele pode salvar sua vida. Ou condená-lo mais depressa ainda. O que importa, é que quando precisar de mim, reze para que eu deseje ajudá-lo.
Não me recordo mais do meu passado, apenas do tempo que vaguei pelos esgotos, túneis, galerias e subúrbios de Santa Helena. Vivendo como mendigo, dormindo em viadutos longe da civilização. A mesma que me acolhera como mãe outrora, agora era minha maior inimiga. A luz das ruas agrediam meus olhos.
Desde aquela noite fria e chuvosa do ano 1975, em que eu morri para o mundo, nunca mais me simpatizei com ruas cheias de pessoas e cidades lotadas de transeuntes. Os túneis e galerias do subsolo, todo um labirinto infindável de galerias obscuras, tornaram-se o meu lar. As criaturas nojentas e decrépitas passaram a me fazer companhia nas noite intermináveis.
O abraço me concedeu várias vantagens tais como uma força imensa e a comunicação com animais, mas me privou da aparência , tornando-me um ser deplorável. Com o tempo descobri artifícios para me disfarçar ou me ocultar das pessoas.
Fui muito bem acolhido nas galerias da metrópole, pude até, com o tempo, me familiarizar com a fauna local. Ratos imensos, aranhas, cobras, baratas e toda sordidez de criaturas que se estalam nos esgotos das cidades é inacreditável.
Logo que me estabeleci no local pude reatar meus contatos adquiridos em vida. Uma imensa rede que envolvia até mesmo o ambiente virtual precário no inicio dos anos 80. Os animais que habitam este local, servem-me como ouvidos ou meus olhos. Às vezes , de cães de guarda ou de caça, servindo ainda de alimento.
Depois de três anos perambulando sozinho pelos esgotos é que a criatura sórdida que havia me amaldiçoado reapareceu. Ele afirmava que o tempo era um dos testes a que eu fora submetido do qual minha sobrevivência era necessária.

Nos anos seguintes me deparei com seres estranhos, mortos vivos como eu de aparência deplorável e isso me acalentava. Rapidamente fui acrescenta às hostes de vampiros influentes no submundo da cidade, fortalecendo laços de contatos e aliados durante as décadas de 80 e 90.
Tornei-me uma criatura esperta, fria e calculista, sendo meticuloso em meus atos. Atualmente, encontro-me atormentado por visões e sonhos com pessoas que matei. Todos os infelizes de que me alimentei assombram meus dias e um futuro sombrio revela-se a frente. Costumo pensar que o futuro será tão negro quanto os pensamentos que infestam minha mente agora.
Para quem não se prende ao passado, o futuro se descortina como um grande negócio a ser realizado.