Forgotten Books: Castelo Falkenstein


Bom dia habitantes das mais remotas partes desse mundo desconhecido. Aqui o bardo Heylian, meio elfoperito em desvendar mistérios, grande conhecedor de história antiga e religião. Convoco os mais valorosos jogadores para revisitar as lembranças de um RPG que sumiu das prateleiras do grande mercado, mas sem antes deixar de cativar fãs nas melhores confrarias de RPGistas brasileiros. É isso mesmo, hoje venho falar de Castelo Falkenstein, um jogo FANTÁSTICO que aportou em terras tupiniquins em fins dos anos noventa. FALKENSTEIN é um jogo inovador, com uma proposta que prioriza interpretação e a criação de um background (diário) em constante atualização.
Escrito por Mike Pondsmith, lançado nos EUA em 1993/1994 pela R. Talsorian Games (a mesma do Cyberpunk 2020) e vencedor do Origins Award Winners (1994), Castelo Falkenstein é um marco na história do RPGs. No Brasil ele foi lançado em 1998 pela Devir livraria, no mesmo período de GURPS e Cyberpunk 2020. Tudo nesse jogo foi feito pra ser original e inovador (principalmente se considerarmos a época). As ilustrações são compostas quase todas por belas aquarelas de Willian C. Eaken. O livro inteiro – as regras inclusive – são escritas na forma de uma crônica, ou melhor, na forma de um diário, redigido hipoteticamente – ou talvez não – por um homem chamado Tom Olan.

Caro Mike, eu não estou morto! (…) Pouco mais de dois anos atrás fui enfeitiçado e levado à força da Terra para um universo alternativo que parece ser uma parte Senhor do Anéis e duas partes ficção científica de Júlio Verne, com uma pitada de Prisioneiro de Zenda. (…) Desde que vim para cá, eu salvei nações, entronei reis, derrubei impérios e tive um romance com a mulher mais bonita dos quatro continentes. Meus melhores amigos são um feiticeiro, o chefe capa espada do serviço real e sua Alteza o Rei das Fadas. Eu conheci a Rainha Vitória, Abraham Lincoln e o Capitão Nemo. Na semana passada tive uma longa conversa com Sherlock Holmes e hoje jantei com um Dragão; e eu não fui o prato principal...
- Tom Olam, Castelo Falkenstein


Tom seria um amigo de Mike (o autor), desaparecido há dois anos, quando enviou um pacote contento seus diários e anotações explicando que teria sido levado de forma mágica para um universo paralelo ao nosso chamado Nova Europa, o mundo do Castelo Falkenstein, e o que lhe acontecera desde então. Nova Europa é um universo paralelo onde elfos, anões, dragões e toda sorte de seres fantáticos vivem lado a lado com a magia e a ciência vaporpunk (vaportécnica, no livro) num cenário historicamente semelhante à nossa Era Vitoriana ao melhor estilo dos contos e livros de Julio Verne, Edgar Alan Poe, Arthur Conan Doyle e cia. Aliás, em Nova Europa todos esses homens ainda vivem e, mais impressionante, seus personagens também são reais!
O livro inteiro é repleto de coisas curiosas e detalhes que nos deixam sempre surpresos e lançam por terra vários clichês que são famosos em outros mundos de fantasia. O gênero das aventuras lembra os filmes pulp dos anos 80 (tipo Indiana Jones e Allan Quartemain), com mocinhos honrados, donzelas lindíssimas, cientistas loucos, duelos de espadas, armas destruidoras de mundos e o que mais do gênero você puder imaginar. E no plano de fundo temos uma Europa vitoriana repleta de tecnologia a vapor e magia, dominada por grandes impérios, reis e déspotas loucos, organizações criminosas e sociedades secretas, tudo muito divertido e misturado de uma maneira que só lendo pra entender.

Castelo Falkestein também inovava por não usar fichas ou sistemas numéricos (imagine isso em 1994), uma vez que na Nova Europa ainda não existem copiadoras. Ao contrário os jogadores são orientados pelo Anfitrião (Mestre do Jogo) a escrever seus backgrounds em um diário (isso mesmo um diário) e descrever suas habilidades com palavras chave específicas, tipo: Alfonse é um Ótimo Espadachim e Bom Cavaleiro, pois aprendeu tais ofícios com seu pai que servira muitos anos à Guarda Real Bávara… Além de suas proficiências e falhas o jogador precisa informar seus desejos, ambições, amores, inimigos e outras coisas importantes. Para completar, o autor explica que naquele universo anacrônico, uma vez que jogar dados é um passatempo de patifes e malandros, os gentlemen da Nova Europeus precisavam de um substituto para realizar os testes de habilidade e, portanto, um baralho é que faz às vezes de inserir o fator sorte aos testes.